A relação da Giulia com as ombreiras
No meu armário tem 9 blazers, todos eles são com ombreiras.
Não só. Não satisfeita assim, podemos encontrar também 5 blusas com ombro bufante.
já basta? poderia continuar com meu fetiche de ombros, mas acho que já é bastante.
a pergunta è: porque?
De onde vem a espasmódica procura de ombros? qual è o fetiche?
Talvez seja justamente na etimologia da palavra fetiche que encontro a resposta.
Fetiche, definição do dicionário da Folha de São Paulo: a palavra fetiche foi empregada
pela primeira vez em 1756, pelo escritor francês Charles de Brosses.
E desde então, a compreensão pelo que é fetichismo mudou muito.
Derivada da palavra portuguesa fetisso (e que dará na atual feitiço),
a noção empregada pelo francês era relativa aos cultos africanos e aos símbolos
que deixavam os colonizadores impressionados.
Etimologia é algo mágico, como a palavra feitiço.
Não é mesmo? SPOILER (no final desse texto vou achar tudo zero mágico, zero graca, zero).
Na busca de entender a magia que sinto ter em relação à ombros pesquisei.
A primeira pesquisa queria ir além das questões de gênero, mas essa questão pesa e pesou muito na sociedade.
Portanto, vou começar exatamente com ela.
O papo envolve, mulheres, luxo, minimalismo e poder. preparados?
Durante a idade média, tanto homens quanto mulheres excediam no código da vestimenta,
era um carnaval contínuo cheio de luxo e purpurina.
Saltos para todo mundo, era necessario aparecer.
Muitas vezes as pessoas excediam ao ponto que passavam os limites das leis suntuárias.
Sim, acreditem, existiam leis que limitavam o luxo e a ostentação.
Já nessa época, os homens encorajavam as mulheres a utilizar trajes muitos luxuosos.
A ideia, era exibi-las como um cartão de visita para demonstrar o poder que eles detenham.
(velha história né não?).
Quanto mais a mulher parecia bela e inalcançável, tanto mais atraía potenciais maridos,
ou demonstrava quanto o marido era rico e poderoso.
As mulheres aceitaram essa condição porque era uma das poucas ocasiões nas quais elas eram vistas,
percebidas e contempladas pela sociedade.
Era a maneira de existir ativamente na sociedade (essa parte me arrepia).
Era a maneira de compensação a uma falta de status próprio, um surrogato de participação social,
um subproduto da existência.
Isso não melhora, mas como vocês podem imaginar vai na direção diametralmente oposta.
Especialemnte depois do iluminismo, onde os seres humanos de sexo masculino casam com o ideal de sobriedade.
Depois da revolução francesa então, nem se fala.
A ascensão da burguesia veio com a proposta de um ideal de rigor e simplicidade, bem diferente da corte de Luís XIV.
Vou pular um pouco a história para chegar aos dias de hoje.
O traje continua mantendo a função comunicativa social de visibilidade e de poder.
Por isso as mulheres para serem vistas começam a usar o famoso tailleur que é a
extrema consequência do minimalismo e também o traje associado ao poder.
O tailleur nasce como imitação de um traje masculino para as mulheres,
a intenção era revolucionar e provocar a sociedade, mas vira com o tempo um uniforme.
Como cada uniforme vale perguntar quanto valor adiciona à afirmação do indivíduo ou quanto o limita.
Giorgio Armani é super conhecido no mundo todo como o promotor dos ideais de androginia e
de interpretação na sociedade da nova posição social das mulheres.
A verdade é que o travestimento que Armani propôs pela geração yuppie (que cresceu sem referências)
era mais funcional do que outros, era mais acreditável.
A mulher contada por Armani é tão irreal quanto a mulher contada por Versace.
É uma heroína do cinema que é reconhecida no mundo do trabalho (ahahahah)
pelo seu desempenho (da série trabalha o triplo e te pago pela metade).
A mulher contada por Armani só serve para dar certezas a uma classe de mulheres que trabalham
e que começam a ocupar cargos importantes nas empresas, é uma tentativa desesperada de visibilidade.
Me dá uma ombreira que to aqui ô.
E um hino à burguesia que passa através do vintage.
A mulher contada por Armani, andrógina e de homem vestida é uma mulher que abdica da
essência dela em função de entrar no mundo de trabalho machista que foi construído à medida
dos homens, ou seja, uma puta de uma mentira.
Tipo George Sand que tem que vestir um smoking para entrar a fazer parte do círculos
dos homens que escrevem.
E passamos de novo a ser vistas para ser apagadas.
Em uma neurose de existência e de apagamento.
Um paradoxo que habito.
Fontes:
Battilla, Andrea, Instant Moda
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